terça-feira, 21 de maio de 2013




                               Viagem Astral

 Às pressas
é lógico
no tempo do meu relógio

A la Bangu
no beleléu

Bati as botas
vou pro céu

A lá Alá!
vem pra cá!
tem cinema em Bagdá

Foi Neruda, Bandeira, Drummond
e Leminski

Mas encontrei Quintana na quitanda
e das frutas divagou...
banana com mel e aveia

Adicione as ameixas e deixa as madeixas
da gueixa que vive andando fazendo queixas

Você e a cartomante em pleno romance
dois amantes na lua em quarto minguante

Palavras deliram
meus versos em sonhos colidem

No mais...
depois do além não tem mais ninguém.

                                                                              Patricio Junior
                                                                                              21.05.13

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013


                                            In versos

Adormeço in-versos

Leio o presente
releio o passado
e rascunho o futuro

Entre o tempo e as entrelinhas
conjugo verbos inveterados

Nascer, Viver, Amar
Sorrir, Sofrer e Morrer.

Mente imaculada
silêncio impoluto
In-versos absurdos

Ferve a verve
no delírio da minha febre

Nos sonhos que eclodem...
Mundos explodem.

Patricio Junior
19.02.13

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013



O Barbeiro de Todos os Santos

Oswaldo era mais que um barbeiro. Um amigo que a vida apresentou logo cedo.

Cadeira, tesoura – que mais tarde seria trocada por máquina 1, e algumas vezes até zero –  e um jaleco branco surrado-amarelado foi à primeira imagem que surgiu deste barbeiro astuto e  repleto de habilidades com suas mãos incrivelmente rápidas.

Aquela barbearia onde Oswaldo exercia o ofício de barbeiro seria o lugar que eu passaria a frequentar a cada quinze dias da minha vida. Segundo ele, era o intervalo de tempo exato para cortar o cabelo e aparar a barba. Eu acreditava nas palavras do velho barbeiro, eram carregadas de sabedoria e tabaco. Fui crescendo e Oswaldo envelhecendo e barbeiramente sábio nos cortes de cabelos e barbas.

O barbeiro possuía um repertório de histórias alusivas a clientes, amigos, frequentadores da barbearia e contos da vida alheia.  A cada corte ou barba por fazer, uma história curiosa sobre alguém que já frequentou sua cadeira. Gostava do barbeiro e do seu afeto comigo e outros clientes.  Por todo o tempo que frequentei sua barbearia, Oswaldo nunca soubera o meu nome de fato, eu era sempre chamado de “Oh garoto” quando chegava a minha vez de cortar o cabelo e aparar a barba. Confesso que isso nunca me incomodou e, pelo contrário, só consolidou ainda mais a nossa amizade a cada quinze dias por 27 anos.

Era uma manhã ensolarada de um sábado qualquer, o botequim ao lado da barbearia estava tranquilo e sem a algazarra da cerveja gelada. Passei direto por lá e entrei na barbearia, a cadeira de Oswaldo estava vazia – o que era incomum aos sábados – e ele não estava por perto e também não estava no botequim, onde ele gostava de almoçar e fumar o seu cigarro. O ambiente na barbearia era lúgubre e com poucos clientes, a TV desligada e o jornal da quinta-feira passada. Tudo indicava que algo tinha acontecido por alí naquela manhã.

Recebi a notícia do Miguel, antigo sócio de Oswaldo na barbearia, que ele falecera na sexta-feira à tarde, vítima de um ataque cardíaco fulminante na sua casa, no seu dia de folga. Esmoreci e saí da barbearia sem saber o que fazer e esqueci completamente do cabelo e da barba grande por fazer. Andando para casa sem outra preocupação ao longo do dia, lembrei da figura de Oswaldo na porta da sua barbearia fumando seu cigarro, encostado em algum carro e chamando “Oh garoto, vamos fazer essa barba!”; foi triste saber que ele nunca mais vai voltar àquela barbearia.

Hoje sinto a sua falta, amigo. Posso dizer que conheci um barbeiro tradicional, de jaleco branco surrado-amarelo e do bairro de Todos os Santos.

Oswaldo, o Barbeiro de Todos os Santos.  Repouse suas mãos e descanse em paz.

                                                                                                                                             Patricio Junior
                                                                                                                                               25.01.12

sexta-feira, 2 de novembro de 2012




                                            Sisifismo

Não te chamei para o teatro
talvez porque não merecesse
Ou sabe-se lá o quê

Não te chamei porque não me procuraste

Por isso... fui só
na busca da ilusão alheia

Envolto a escuridão
abre a cortina de luz e ilusão

Pensamentos longínquos
exercícios de sisifismo
deparo-me no abismo

Não sou sofista
ou romancista... Apenas um ensaísta
do teatro da vida

Repleto de cansaço e indagações
eu no precipício cercado de indícios  
o construir de um novo início.

                                                                              Patricio Junior
                                                                                                02.11.12

quinta-feira, 20 de setembro de 2012


                          Ao Monte

O amor é complexo
Deixa tudo desconexo

Transa sem sexo
amor sem versos
e o tal beijo que nunca acontece

Não vivo mais um romance
sou um ser pulsante e viajante
sonhando vou além do distante

Um rosto que vi ao longe

Quero o óbvio do ópio
a monotonia da tua monogamia
um chá da sua companhia

Viver ao teu lado mais um dia
Quem diria...com ou sem alegria

E deixo para trás quem me trouxe agonia
Fujo! Vou viver a vida!

Tem gente por aí...
Que gostaria de apenas mais um dia.

                     Patricio Junior
                              20.09.12

terça-feira, 11 de setembro de 2012



  18h

A solidão já me fez melhor companhia...

Nesses dias tão vazios
toda a casa é chocha
a parede que você pintou...é roxa

Você já foi melhor
soubeste aproveitar todos os espaços
e todos os cômodos da casa

Já consigo ver a sua cor
branca da cor do meu silêncio
e roxa de rancor

Havia mais um pouco de tudo
Mais um pouco de solidão
Do meu lado todo dia... à sua companhia.

                                                                                 Patricio Junior
                                                                                                     11.09.12

sábado, 25 de agosto de 2012


Deixa...

Deixa tudo assim...
a garrafa virada na mesa
e o copo vazio de cerveja

Deixa...apenas deixe...
o silêncio tomar toda a sala
até que o galo cante invadindo a madrugada

Deixa...apenas deixe...

Um maço vazio de cigarros...
e a janela aberta para o som da rua
que um dia nos desperta

Deixe-nos nu
sem coberta e sem hora
sem a pressa do “vambora”

Apenas deixe minha pele nua colada na tua
aquela que aquece e umedece

Deixa... apenas deixe...

Um pouco de tudo
já se fora o orgulho e o pudor
não quero mais lamúrias de amor

Deixa tudo pra lá...
o pra quê do início de tudo
se queremos o meio sem chegar ao fim

Vamos...apenas deixe
sem pensar no começo e recomeço

Deixa...apenas deixe...
tudo sem rumo e sem resumo
calcado pela nossa vontade do avesso.

                                                               Patricio Junior
                                                                        25.08.12