O Barbeiro de Todos os Santos
Oswaldo era mais que um barbeiro.
Um amigo que a vida apresentou logo cedo.
Cadeira, tesoura – que mais tarde
seria trocada por máquina 1, e algumas vezes até zero – e um jaleco branco surrado-amarelado foi à
primeira imagem que surgiu deste barbeiro astuto e repleto de habilidades com suas mãos
incrivelmente rápidas.
Aquela barbearia onde Oswaldo
exercia o ofício de barbeiro seria o lugar que eu passaria a frequentar a cada
quinze dias da minha vida. Segundo ele, era o intervalo de tempo exato para
cortar o cabelo e aparar a barba. Eu acreditava nas palavras do velho barbeiro,
eram carregadas de sabedoria e tabaco. Fui crescendo e Oswaldo envelhecendo e
barbeiramente sábio nos cortes de cabelos e barbas.
O barbeiro possuía um repertório
de histórias alusivas a clientes, amigos, frequentadores da barbearia e contos
da vida alheia. A cada corte ou barba
por fazer, uma história curiosa sobre alguém que já frequentou sua cadeira. Gostava
do barbeiro e do seu afeto comigo e outros clientes. Por todo o tempo que frequentei sua barbearia,
Oswaldo nunca soubera o meu nome de fato, eu era sempre chamado de “Oh garoto” quando
chegava a minha vez de cortar o cabelo e aparar a barba. Confesso que isso
nunca me incomodou e, pelo contrário, só consolidou ainda mais a nossa amizade
a cada quinze dias por 27 anos.
Era uma manhã ensolarada de um
sábado qualquer, o botequim ao lado da barbearia estava tranquilo e sem a
algazarra da cerveja gelada. Passei direto por lá e entrei na barbearia, a
cadeira de Oswaldo estava vazia – o que era incomum aos sábados – e ele não
estava por perto e também não estava no botequim, onde ele gostava de almoçar e
fumar o seu cigarro. O ambiente na barbearia era lúgubre e com poucos clientes,
a TV desligada e o jornal da quinta-feira passada. Tudo indicava que algo tinha
acontecido por alí naquela manhã.
Recebi a notícia do Miguel,
antigo sócio de Oswaldo na barbearia, que ele falecera na sexta-feira à tarde,
vítima de um ataque cardíaco fulminante na sua casa, no seu dia de folga. Esmoreci
e saí da barbearia sem saber o que fazer e esqueci completamente do cabelo e da
barba grande por fazer. Andando para casa sem outra preocupação ao longo do
dia, lembrei da figura de Oswaldo na porta da sua barbearia fumando seu cigarro,
encostado em algum carro e chamando “Oh garoto, vamos fazer essa barba!”; foi
triste saber que ele nunca mais vai voltar àquela barbearia.
Hoje sinto a sua falta, amigo.
Posso dizer que conheci um barbeiro tradicional, de jaleco branco surrado-amarelo
e do bairro de Todos os Santos.
Oswaldo, o Barbeiro de Todos os
Santos. Repouse suas mãos e descanse em
paz.
Patricio
Junior
25.01.12