quinta-feira, 21 de junho de 2012


Sonhar é vencer.                                                              
            
Essa pequena história começa em 1997, no bairro de Madureira no colégio Lemos de Castro. Tudo era muito novo pra mim, confesso que estava perdido e só queria saber de jogar basquete, astronomia, escrever poesias e ver o mundo passar pela janela do meu quarto. Não sabia o que era amor – e acho que levamos uma vida inteira para descobrir a plenitude deste sentimento -, mas sabia piamente o valor das amizades que passariam por mim nos três anos daquele curso.

Ingressei no 2°grau técnico em telecomunicações; sonhava em captar ondas de rádio alienígenas através de antenas parabólicas apontadas para alguma estrela céu.

No primeiro dia de aula, aquele frio na barriga – sensação que deixara nas lembranças do meu primário - tomava conta daquele jovem de 18 anos, curioso com o mundo e as pessoas que o cercavam. Tudo era muito novo e o novo era extremamente sedutor.

Comecei a subir as escadas procurando a minha sala e turma. Rodeado por vozes desconhecidas e conversas paralelas que eu mal podia entender. O desconhecido era meu acompanhante em cada degrau daquela escada cinza e larga. De repente, me deparei com a turma que iria me acompanhar por três anos. Feições amigáveis, sorrisos bonitos, alguns tímidos e muita energia contida em cada um deles.

O ano letivo foi caminhando e comecei a fazer novas amizades; entrei para equipe de basquete do colégio, o que facilitou a minha relação com outros alunos do colégio.

Mas a minha turma era especial, éramos entrosados e consolidamos uma amizade muito gostosa que se desenvolvia a cada aula, a cada intervalo daquelas semanas, meses e anos. Sendo assim, decorava o nome de cada um deles, gestos, manias e olhares. Uma visão romântica e muito particular de cada amizade que eu havia construído no tradicional colégio do bairro de Madureira.

Um dos integrantes desta turma tão heterogênea era Miltinho Duarte. Gordinho, simpático, comunicativo, dono de um riso fácil e dotado de um senso de humor incrível. Ele era o cara que me fazia rir toda vez que eu olhava para ele. Conhecia tudo e todos no colégio, o mais popular, o cara que deixava a sua marca pessoal por onde passava.

Miltinho abandonaria o curso técnico no final do 1°ano e voltaria para o 2°grau de “pessoas normais”. Aquele curso era muito sério para ele. Não tinha nada a ver com a personalidade do Miltinho. Uma pessoa comunicativa, simpático com todos, ele merecia desbravar horizontes mais promissores, e não lidar com circuitos integrados que faziam LED´s acender ou apagar.

Os anos foram passando e com ele a ingratidão do tempo, o hiato de uma amizade que se perdera pela ausência do viver e conviver. O 2° grau passou para Miltinho assim como passou para mim e para todos os integrantes da minha turma. Perderia o contato, a convivência, o companheirismo e a diversão daqueles três anos em Madureira.

Hoje, com o advento das redes sociais, nos encontramos e mantemos contato, mas nada suplanta o que vivemos no primeiro ano do curso técnico.

Através da notícia de um amigo, fiquei sabendo que Miltinho Duarte adoecera e estava com câncer. Sabe aquela sensação de você achar que isso não vai acontecer com ninguém da sua família e amigos? Que tudo não passa de um drama hollywoodiano ou de um folhetim das 20h que assistimos todos os dias.

Sete anos atrás, perdia minha querida avó Waldivia Cavalcante, a mulher mais incrível e espirituosa que eu conheci em toda a minha vida – Waldivia falecera de câncer no leito da UTI em uma sexta-feira - a vontade de viver era maior que a decrepitude de seu corpo, sua mente ainda ativa maquinava sem parar, ideias e cantigas de uma infância distante em Maceió.

Waldivia Cavalcante e Miltinho Duarte são pessoas especiais. Não é o fato de serem acometidos pela mesma doença, mas pela vontade de viver e vencer. O fato de nunca desistirem, de lutar pela vida e pelo amor que temos por ela.

Sabemos que viver é difícil, mas sabemos também que a vida é frágil e a complicamos porque queremos; pela falta de dinheiro, pelo carro novo que você quer, pelo amor não correspondido, pela dor, ausência, saudade e a ganância de ser e ter o que você não é. A vida é frágil e alimentada de sonhos. O sonhar em viver, o sonhar em vencer.
                                                                                              
Patricio Junior   21.06.12

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