Sonhar é
vencer.
Essa pequena história começa em 1997,
no bairro de Madureira no colégio Lemos de Castro. Tudo era muito novo pra mim,
confesso que estava perdido e só queria saber de jogar basquete, astronomia,
escrever poesias e ver o mundo passar pela janela do meu quarto. Não sabia o
que era amor – e acho que levamos uma vida inteira para descobrir a plenitude
deste sentimento -, mas sabia piamente o valor das amizades que passariam por
mim nos três anos daquele curso.
Ingressei no 2°grau técnico em telecomunicações; sonhava em captar ondas de
rádio alienígenas através de antenas parabólicas apontadas para alguma estrela
céu.
No primeiro dia de aula, aquele frio
na barriga – sensação que deixara nas lembranças do meu primário - tomava conta
daquele jovem de 18 anos, curioso com o mundo e as pessoas que o cercavam. Tudo
era muito novo e o novo era extremamente sedutor.
Comecei a subir as escadas procurando
a minha sala e turma. Rodeado por vozes desconhecidas e conversas paralelas que
eu mal podia entender. O desconhecido era meu acompanhante em cada degrau
daquela escada cinza e larga. De repente, me deparei com a turma que iria me
acompanhar por três anos. Feições amigáveis, sorrisos bonitos, alguns tímidos e
muita energia contida em cada um deles.
O ano letivo foi caminhando e comecei
a fazer novas amizades; entrei para equipe de basquete do colégio, o que
facilitou a minha relação com outros alunos do colégio.
Mas a minha turma era especial,
éramos entrosados e consolidamos uma amizade muito gostosa que se desenvolvia a
cada aula, a cada intervalo daquelas semanas, meses e anos. Sendo assim,
decorava o nome de cada um deles, gestos, manias e olhares. Uma visão romântica
e muito particular de cada amizade que eu havia construído no tradicional
colégio do bairro de Madureira.
Um dos integrantes desta turma tão
heterogênea era Miltinho Duarte. Gordinho, simpático, comunicativo, dono de um
riso fácil e dotado de um senso de humor incrível. Ele era o cara que me fazia
rir toda vez que eu olhava para ele. Conhecia tudo e todos no colégio, o mais
popular, o cara que deixava a sua marca pessoal por onde passava.
Miltinho abandonaria o curso técnico
no final do 1°ano e voltaria para o 2°grau de “pessoas normais”. Aquele
curso era muito sério para ele. Não tinha nada a ver com a personalidade do
Miltinho. Uma pessoa comunicativa, simpático com todos, ele merecia desbravar
horizontes mais promissores, e não lidar com circuitos integrados que faziam
LED´s acender ou apagar.
Os anos foram passando e com ele a
ingratidão do tempo, o hiato de uma amizade que se perdera pela ausência do
viver e conviver. O 2° grau passou para Miltinho assim como
passou para mim e para todos os integrantes da minha turma. Perderia o contato,
a convivência, o companheirismo e a diversão daqueles três anos em Madureira.
Hoje, com o advento das redes
sociais, nos encontramos e mantemos contato, mas nada suplanta o que vivemos no
primeiro ano do curso técnico.
Através da notícia de um amigo,
fiquei sabendo que Miltinho Duarte adoecera e estava com câncer. Sabe aquela
sensação de você achar que isso não vai acontecer com ninguém da sua família e
amigos? Que tudo não passa de um drama hollywoodiano ou de um folhetim das 20h
que assistimos todos os dias.
Sete anos atrás, perdia minha querida
avó Waldivia Cavalcante, a mulher mais incrível e espirituosa que eu conheci em
toda a minha vida – Waldivia falecera de câncer no leito da UTI em uma
sexta-feira - a vontade de viver era maior que a decrepitude de seu corpo, sua
mente ainda ativa maquinava sem parar, ideias e cantigas de uma infância
distante em Maceió.
Waldivia Cavalcante e Miltinho Duarte
são pessoas especiais. Não é o fato de serem acometidos pela mesma doença, mas
pela vontade de viver e vencer. O fato de nunca desistirem, de lutar pela vida
e pelo amor que temos por ela.
Sabemos que viver é difícil, mas
sabemos também que a vida é frágil e a complicamos porque queremos; pela falta
de dinheiro, pelo carro novo que você quer, pelo amor não correspondido, pela
dor, ausência, saudade e a ganância de ser e ter o que você não é. A vida é
frágil e alimentada de sonhos. O sonhar em viver, o sonhar em vencer.
Patricio Junior 21.06.12
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